sábado, 19 de setembro de 2009

O Jogo da Malha

--- Existem relatos de que a sua origem poderá ser Francesa, ou Italiana, os primeiros chegam-nos por volta do ano de 1490, mas é possível encontrarmos provas da sua existência em documentos franceses, datados de 1464.

Em Portugal, este jogo que consiste no arremesso de malhas de ferro que puderam ser de forma redonda ou não, sempre foi muito popular, com os nomes como Chinquilho ou jogo do Fito, que ao invés de malhas de ferro, são utilizadas para o efeito, pedras que cada jogador molda conforme a sua força e tamanho da mão, para que assim possam ficar a seu jeito.

Tanto o jogo da malha, como também o fito, terão ainda sido em tempos levados ao que consta, para o Brasil por emigrantes portugueses.
Documentos apontam que já no período colonial este jogo era uma prática corrente em terras coloniais Portuguesas. Os trabalhadores da época, terminado o dia de trabalho participavam no jogo da malha como forma de lazer, usavam peças rudimentares como pedras, ferraduras, pedaços de chapas de ferro, variando de formato e tamanho. Os Mecos não tinham o padrão certo, tudo servia, era considerado um jogo de pessoas humildes.

Regras

Cada equipa é constituída por dois elementos, parceiros, podendo contudo ser jogado individualmente , vulgo, mano a mano.
Para jogar, as equipas colocam-se cada uma junto ao seu Meco, de modo a ficarem lado a lado dois adversários. Os dois primeiros jogadores, ao iniciarem cada partida, terão cada um duas malhas que lançarão alternadamente procurando derrubar o Meco da outra cabeceira ou deixar a malha o mais próximo possível e assim sucessivamente.
As malhas costumam normalmente ter um diâmetro de cerca de 10,5 cm e um peso de aproximado de 600 gramas no que toca aos Mecos, terão uma altura de cerca de 20 cm, na maioria das vezes menos e uma base de aproximadamente
3 a 5 cm. A distância máxima entre os Mecos será de 20 m e a mínima de 16 metros.
Na frente dos Mecos, e à distância de um metro, será marcada na perpendicular que delimita a zona de lançamento das malhas.
Todo e qualquer jogador que ao lançar a malha ultrapasse o risco de lançamento previamente marcado pelas equipas, poderá ser advertido ou mesmo penalizado.

Pontuação

Sempre que o Meco for derrubado serão contabilizados 4 pontos para a respectiva equipa.
Depois das quatro malhas jogadas, a que ficar mais próximo do Meco obterá 2 pontos, podendo uma equipa somar 6 pontos se uma das suas malhas for as mais próxima e a outra derrubar o Meco, sendo o parceiro do jogador cuja malha ganhou os pontos quem procederá ao primeiro lançamento das malhas e assim sucessivamente.
Cada jogo termina aos 30 (trinta) pontos e ganha a equipa que primeiro os conseguir atingir.
No nosso Concelho e em minha opinião, penso que este será um dos poucos costumes que não corre ainda risco de cair no esquecimento, é com alguma frequência que ainda se vão realizando aqui e ali, de aldeia em aldeia, um ou outro torneio, que vai juntando os craques, não só do no Concelho de Mogadouro com de Concelhos vizinhos.

Lembro-me quando em criança e junto com alguns amigos, Rui Guimarães, Bruno Mendes, Tiago Leitão, Paulo Guedes, Bruno Leonor e um ou outro mais, que pelo Penedo aparecia, quando nos apetecia jogar á malha, e nos dirigíamos à Taverna do Chico Padrinho como era conhecida na vila, para lhe pedirmos as malhas.


- Oh Sr. Francisco, podia-nos emprestar as malhas se fizer o favor?
- Para onde é que ides jogar?
- Nós vamos jogar ali para a praça...
- Está bem, mas depois trazei-mas cá, se não para a próxima não as voltais a levar!!
- “Está bem, está bem”,
respondia-mos em uníssono.
E sentado no banco, onde aliás sempre estava sentado, por de trás do balcão gritava:
- Oh Zabel (esposa) trás cá as malhas prós garotos;

Mesmo assim eram mais as vezes, que aquelas pobres malhas dormiram ao relento encostadas á parede da Igreja da misericórdia, do que aquelas que eram devolvidas ao Sr. Francisco, o que vale é que naquela altura, ninguém roubava nada a ninguém, ao que se fosse hoje em dia….



---Para quem não conhece o jogo, ou para um ou outro mais distraído, que nunca tenha ouvido deste falar, aqui fica um pequeno vídeo, que realizei com imagens recolhidas na aldeia de Meirinhos.

O Jogo da Malha

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

PERSONAGENS - Ti Serafim


--- Chamava-se, Serafim Fortunato Preto, e era natural do Concelho de Mogadouro, da Aldeia da Figueirinha, Freguesia de Travanca, onde nasceu no dia, 19 do mês de S. João, do ano de 1911.
Sem dúvida que se existe no nosso concelho tradição, de Danças de Paus, Gaiteiros e Caixeiros, é da Freguesia de Travanca, que nos chegam os mais antigos testemunhos.
É disso exemplo, “ ti Serafim”, era assim que era conhecido, hábil Caixeiro da aldeia da Figueirinha, que durante muitos anos, deu ritmo ao som da “ Gaita “, a Arruadas, Alvoradas e a Danças de Paus, pelas aldeias do Concelho de Mogadouro.
Contaram-me que fora por volta dos 15 anos de idade, que se iniciara no instrumento que o acompanhará pelo resto da vida, agricultor de profissão, dedicava-se á criação de gado bovino da raça autóctone, "a mirandesa"e era no final do dia de trabalho, que ensaiava as modas da época e que quando se achava capaz, as tocava em dias de festa da sua aldeia, Figueirinha e em terras vizinhas quando o chamavam.
Dizia que se lhe dava muito bem a sesta, em cima d’uma pedra mal amanhada, que ficava debaixo de uma parreira, que nascera e crescera, estribada numa das paredes da sua curralada, onde guardava o gado e que ainda hoje ali se encontra.
Com muita pena minha de não o ter conhecido pessoalmente, foi por meu grande amigo Rui Preto, neto do próprio, que tomei conhecimento de algumas das suas façanhas e proezas como homem, caixeiro e caçador.
Como testemunho do seu legado, deixou-nos a sua caixa, que ainda em vida, afirmava ter mais de 150 anos, embora esta não tenha encontrado sucessor à altura, é guardada com todo o respeito que merece pela família, se bem que não poucas vezes, tenha sido vítima de pancadas menos melódicas, por parte de alguns curiosos, “como eu”, que não resistem ao velho e tentador instrumento.
Recordo hoje algumas das noites geladas de inverno, daquelas que não se pode andar na rua, passadas em casa do Rui, “neto”, junto da lareira dos seus anexos, na companhia de mais um ou outro amigo, quando depois de um petisco, "por vezes bem regado", este me pedia, “ bá… vai lá buscar a viola e toca lá uma musiquinha”, pedido ao que com todo o agrado acedia, nunca antes sem que este disse-se, “ou, espera aí q´eu já vou buscar a caixa do meu avô”, bons tempos que de quando em vez, não deixam de se repetir. Eis que chegava o Rui sorridente, qual criança com brinquedo em mãos, dizendo “agora é que baí a ser agora ...”, dizendo de seguida o Geiras, “bota cá q´eu toco”, ao que o Rui respondia, “calma espera aí… devagar e sempre já dizia o meu avô”, era sempre necessário colocar o velho instrumento junto da lareira, para que assim aquece-se e as peles de animal que o compõem, ganhassem a elasticidade conveniente para que as cordas laterais se conseguissem apertar, fazendo assim com que o velho instrumento, conseguisse reproduzir o seu som original.
Era então que munidos dos respectivos instrumentos, lá saía uma ou outra musiquita, tocada e cantada, como as mãos e as gargantas o permitiam.
Quanto ao ti Serafim, verdadeiro protagonista desta crónica, deixou de tocar as 85 anos, por força das pernas, que o impediram de fazer aquilo que mais gostava, faleceu com 93 anos de idade, em Mogadouro na casa da Família.



--- Agradecimentos à família pela disponibilização das fotos, com que ilustrei este texto.

Arruada do Grupo de Pauliteiros da Figueirinha no ano 1975.


O velhinho Instrumento


--- Reparem na grossura das baquetes, não delicadas como as de hoje em dia, mas também naqueles tempos as mãos eram outras.

O velhinho Instrumento

-- Vista lateral do velho instrumento.

sábado, 5 de setembro de 2009

NOTA INTRODUTÓRIA


--- Por ser Mogadouro o motivo da criação deste blog, o que de resto será de fácil constatação por parte do leitor, em minha opinião nada melhor do que começar com uma breve introdução à história daquilo que foi e naquilo que se tornou, esta bela vila da Província Transmontana, que tanto orgulha aqueles que um dia ali nasceram, viveram e morreram …


São o Período Neolítico e os seus «castros», os antepassados das nossas povoações actuais, espalhados pelo concelho. São dignos de relevo os castros: de Oleiros em Bemposta, Vilarinho, S. Martinho do Peso, Figueirinha de Travanca, Bruçó e o inédito castro da Vilariça no alto da Serra da Castanheira.Por aqui passaram os Celtas que deixaram restos da sua arte e religião na «Cultura aos Berrões». Uma das tribos celtas mais célebres nesta região foi a tribo dos Zoelas.Estas e outras tribos anteriores fizeram as «civilizações Antigas» dos rios Douro, Sabor e Angueira.O Período Romano no Concelho de Mogadouro está documentado por muitos elementos que vão desde a arte e religião até à vivência sócio-económica.É digna de visita a Ara Romana ao Deus Júpiter Depulsori, conservada ainda na povoação de Saldanha. O monumento foi construído no tempo de Septímio Severo (Séc. III D. C.).Por todo o concelho têm aparecido lápides funerárias e também objectos vários que atestam bem a força da «Romanização» nestas terras.Do período visigótico é a única lápide Paleo-Cristã descoberta no distrito. Apareceu no termo de S. Martinho do Peso e está actualmente no Museu do Abade de Baçal em Bragança.Da época muçulmana restam alguns elementos do artesanato regional - linho e lã - ou seja a tinturaria e os desenhos das colchas, tapetes e toalhas de linho e lã.É mais nítida a acção da gente destas terras nos alvores da nacionalidade.O castelo de Penas Róias foi construído no tempo de D. Afonso Henriques. Na padieira da porta da torre de menagem daquele vetusto monumento diz uma inscrição medieval que « COMEÇARAM OS FUNDAMENTOS DO CASTELO CHAMADO PENA ROIA NA ERA DE 1204 (1166 da era cristã) SENDO MESTRE GERAL DOS TEMPLÁRIOS GUALDIM PAIS ». O castelo de Mogadouro é da mesma década.D. Afonso III deu foral a Mogadouro em 1272 e 1273.Quando da crise dinástica de 1383-85, Mogadouro tomou voz pelo rei de Castela, como represália, D. João I elevou a vila a «poboa» do Azinhoso, desligando-a de Mogadouro.Durante o século XVI a vila de Mogadouro manteve-se parada.
Foi a partir do século XVI que Mogadouro teve progresso notável. A família dos Távoras, que nesta altura toma o comando da vila e da sua fortaleza, contribuiu imenso para o desenvolvimento desta terra.
Foi por acção dos Távoras que, em 1559, se fundou a Santa Casa da Misericórdia , e mais tarde o seu templo. São ainda obra da nobre família dos Távoras a ponte entre Valverde e Meirinhos, construída em 1677 e a ponte de Remondes entre Mogadouro e Macedo de Cavaleiros, construída em 1678.Também aquela família de nobres contribuiu para a construção de algumas igrejas e retábulos nas várias povoações do concelho, nos séculos XVII e XVIII, sendo dignas de relevo as obras do Convento de S. Francisco, a actual igreja Matriz de Mogadouro, a capela de N. Senhora da Ascensão no alto da Serra da Castanheira e outras.Poscritos do Reino de Portugal por D. JoséI, depurados nas pessoas confiscados nos bens pelo Marquês de Pombal, os Távoras desapareceram para sempre.Com a morte dos Távoras, o concelho de Mogadouro ficou mais pobre. Durante o século XIX as famílias influentes de Mogadouro pouco fizeram pela sua terra.Levantou-se, no fim do século, a voz combativa do «poeta» jurista Trindade Coelho para defender a sua terra, mas nada adiantou.Esta terra foi e continuou por muito tempo esquecida dos poderes centrais.
Hoje, Mogadouro é uma populosa vila cheia de progresso e com óptimas condições para o futuro.No campo cultural Mogadouro tem Escola Preparatória, e Escola Secundária.Nas povoações do concelho funcionam, com muita actividade, trinta Associações Culturais e recreativas coordenadas pelo Projecto Cultural (experimental) integrado, com sede em Mogadouro.Existem ainda na vila dois excelentes «Conjuntos» musicais e uma banda filarmónica.
Fonte: Dr. António Rodrigues Mourinho (Junior)http://www.mogadouro.com/

Apresentação do Concelho de Mogadouro