quinta-feira, 24 de junho de 2010

Em Ventozelo


Os forninhos de Alvagueira


No sítio de Alvagueira, que fica a meia encosta do rio Douro, na margem direita da ribeira de Ventuzelo, existem umas palas nos rochedos chamados Forninhos de Alvagueira, e é tradição que foram habitados por uma gentinha brava que se alimentava de frutas e de répteis. Esta gente saía de manhã cedo pelos campos fora e recolhia à noite.

Frequentava este sítio uma pastora guardando o seu gado, de quem a tal gente era muito amiga e que muitas noites dormia junto ao curral que ficava a pequena distância do caminho dos forninhos. A pastora chamava-se Maria, e de noite quando os selvagens passavam, perguntavam sempre lá do caminho:


– Ó Maria! Tu estás lá?

– Eu estou – respondia ela.

– Pois eu cá vou – tornavam eles.


Próximo dos forninhos havia uns moinhos ribeirinhos que ainda hoje existem, e diz-se que uma ocasião o moleiro estava a assar, a um grande lume que tinha feito, um bocado de carne de porco aproveitando o pingo numa fatia de pão. Mas de repente entra pelo moinho dentro um homem dos da gentinha brava, com um grande espeto enfiado de lagartos e outros répteis, e pôs-se também a assá-los ao lume, começando por querer pingar com o assado do seu espeto no pão do moleiro, dizendo:


– Pinga tu e pingo eu, e comeremos ambos de mistura.

Ao que respondia o moleiro:

– Assar sim, mas pingar não.


Mas o homenzinho tanto teimou em querer pingar no pão do moleiro que este, já enfadado de o aturar, pega no espeto, que era uma vara de madeira, e dá-lhe duas ou três bordoadas com ele, e foge para Ventuzelo todo atrapalhado, com medo que a gente dos forninhos viesse atrás dele e o agarrasse no caminho. O certo é que o moleiro não voltou mais ao moinho e este esteve abandonado largos anos.

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