quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

Os Galhegos e a Ponte de Remondes


---Há dias em visíta por um dos blogs da terra, o ho mogadoyro, e depois de ali ter lido um artigo relacionado com uma reconstrução a que a ponte de Remondes foi sujeita, após uma cheia que parcialmente a terá destruído, veio-me à memória, um caricato epísodio fictício suponho, acerca da sua primeira edificação.
Desconheço se terá alguma contextualização histórica válida, mas acho pertinente colocá-lo aqui, quanto mais não seja para tentar evitar que este, do qual tomei conhecimento pela tradição oral, se perca no tempo….
Quando ouvi esta história, deveria ter uns 16 anos, foi-me contada pelo tiu Daniel de Remondes, numa das muitas deslocações que o Rancho Folclórico e Etnógrafico de Mogadouro realizava naquele tempo da sua fundação e se bem me lembro o tiu Daniel terá começado mais ou menos assim:

Quando os Távoras senhores do Mogadouro da sua época, deram ordem de construção para a ponte, em data que rondaria o ano de 1580/90, recorreram á mão-de-obra Galega, para a sua edificação.
Uma vez em Portugal os nuestros hermanos, Galhegos, como o tiu Daniel lhe chamou, afirmavam estar muito contentes, pela maneira como eram tratados pelos Portugueses destas terras, dizendo que estes preferiam dar-lhes a eles Galhegos, as couves maduras para o caldo, enquanto nós Portugueses ficava-mos com as verdes para nós, ou seja, dávamos-lhes as amarelas, ás quais eles pela sua coloração, julgavam estarem maduras, e nós toca a comer caldinho verde, enfim….
Bom, certo dia quando já todos os arcos da ponte se encontravam construídos e as obras de assento do pavimento se iniciavam, depois de um árduo dia de trabalho, o cozinheiro de serviço, preparava-se para servir um belo caldo preparado com as famosas couves maduras, a páginas tantas, o cozinheiro com uma grande colher de pau mexia o interior da grande panela onde preparava o mesmo, ao debruçar-se sobre esta para facilitar o trabalho, terá deixado cair para dentro da panela um artefacto, que na época utilizavam para acender o lume, ao qual o tiu Daniel na altura apelidou de tchismes do lume.
Bom não imagino o que seja, lembro-me de ele me ter dito que seria algo semelhante a uma torcida de serapilheira, com cerca de 10 cm de comprimento, e que ficava preto de ser aceso.
Continuando, quando o caldeirão do caldo já se encontrava sobre a mesa e grande parte dos homens já se tinham servido e repetido do apetitoso caldo, "escusado será dizer que não havia mais nada, daí se tornar apetitoso", chegou a vez do cozinheiro se servir da sua parte, eis que ao derramar o caço no seu prato, deu conta do referido e estranho objecto. Como era de noite e a iluminação escassa, não conseguiu identificar de imediato de que se tratava, aquilo que via no seu prato.
Depois de voltas e mais voltas, o cozinheiro acabou por confundir, o pedaço de torcida com uma salamandra.
Ciente da desgraça que se avizinhava para aqueles que já tinham comido o caldo, e que seriam vítimas do coxo do réptil, por este ter sido cozinhado com o caldo, virou-se para os demais e disse:
-“ Olhai rapazes, isto que tenho no meu prato, não sei que raio é, se é Salamandra ou algo mau, mas os que já comeram, que vão mas é a Mogadouro, tomar sal amargo para limpar o coxo.
Ao tomarem o sal amargo, iriam provocar o vómito, sendo na altura, esta a única forma de salvarem as suas vidas.
Fácil será de imaginar, o desespero daqueles homens, que ladeira acima corriam, movidos pela ânsia de se salvarem.
Para quem conhece a ladeira de Remondes, e ainda por cima para quem a tenha de subir, certamente não é dos terrenos mais rápidos de percorrer a quem tem pressa, certo é que enquanto os desgraçados se esgadanhavam direitos ao Mogadouro, o cozinheiro intrigado pelo estranho sucedido, continuou de volta do prato, na tentativa de descortinar do que realmente se tratava, até que a certa altura, deu conta de que efectivamente se tratava do pedaço de torcida que quando se debruçara na panela para mexer o caldo, lhe caíra do bolso do casaco. Sem perder tempo acorreu junto á margem do Rio Sabor do lado de Termo de Castro Vicente, e com a força que podia, gritava:
- Ou..., olhai que não é nenhuma salamandra é um tchismes do lume..., a esta altura os homens que acorriam a Mogadouro, estavam mais ou menos na zona da ladeira, onde hoje se encontra a capela, e com o barulho provocado pelo caudal de inverno do rio, e dos gritos desesperados dos menos crentes da salvação, o que ia mais atrás respondeu:
- “O que já morreram dois…”
É de prever que ao ouvirem o que o mais tardego dizia, terá acontecido um autêntico, esfola, mata, agarra ai quem me ajuda, até chegarem a Mogadouro.
Chegados ao destino, de imediato tomaram o sal, vomitaram, aguardaram por algum sintoma que não apareceu e uma vez que se julgaram cientes, de que o sal os tivesse curado, rumaram de novo ao acampamento junto á ponte.
Seriam já 2 horas da manhã e sob um belo luar de Janeiro, ao passarem em cima da ponte, esfaimados pelo desgaste da corrida, reparam que dentro do rio um estranho objecto reluzia, redondo e branco, o qual lhes fez lembrar de imediato um belo queijo, miraram voltaram a mirar, até o estômago ter chegado à conclusão que efectivamente se tratava de um queijo, e do bons….
Tinham de arranjar maneira de o tirar….Eis que surge uma ideia, por parte de um dos que ali se encontravam e orgulhoso, disse para os demais:
- Olhai-de que tenho uma ideia, eu como sou o mais forte fico em cima da ponte, debruço-me para o rio, agarro um pelas pernas e os outros sobem pelas minhas costas e vão descendo pelas dos outros um a um e um de cada vez , formando um cadeado ate chegar ao rio e agarrar-mos o queijo.
E aí está, meu dito… meu feito, já debruçado e agarrado o primeiro pelas pernas, começam os outros a subirem-lhe pelas costas e penduram-se um a um em cadeado até chegarem ao rio.
Já lá iam quatro, o quinto pergunta, para o fortalhaço:
-Como é? aguentas?
-Claro que aguento, não me conheces?
Pendura-se o sexto, e quando este ia a meio da descida, eis que se vira o homem da força:
- Olhai rapazes, eu aguento-me mas segurai-vos só um pouquinho, que quero cuspir nas mãos, e lá vai disto, caiu tudo ao Sabor, este não perdeu tempo e disse:
-Afinal já lá estáveis e não dizíeis nada, agarrai e trazei-o p´ra cima. Escusado será dizer, que o queijo não era nenhum e se tratava apenas do reflexo da lua no leito do Rio.
Bom, e fica por aqui esta breve história em jeito de anedota, falta-me uma outra parte, de que não me recordo já, todavia, sei que quando os nosso protagonistas e hermanos galhegos, assentavam o pavimento da ponte, esta terá desabado, pela falta de assímetria dos arcos de volta perfeita, e que está associado á queda, mais um epísodio cómico, mas os anos já me o varreram da memória.

1 comentário:

  1. Caro Bruno, neste tipo de histórias é indiferente se existe ou não fundo histórico. Certamente foi sendo passada pela via oral, de geração para geração (com naturais acrescentos e deturpações, mas isso é irrelevante). Ainda bem que a publicaste. É um crime deixar perder estas coisas.
    Bom trabalho!

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